Arquivo mensal: maio 2009

Feliz em ser… gay!


Hoje um post seguindo na linha do anterior. Contudo, sob outro enfoque (opositivo eu diria). Dia 17 foi o dia internacional de combate à homofobia. Marcando esta data e esta luta, algumas ações e declarações que considero interessantes foram feitas. No texto de hoje, reproduzo algumas delas.

Uma iniciativa em vídeo que achei muito legal e leve é o vídeo The Big Fat Gay Collab (algo como “A imensa colaboração gay“, embora assuma que minha tradução pode estar imprecisa – além de pouco atraente). O autor do vídeo utiliza a música Fuck You, da cantora Lily Allen, com várias mensagens em vídeo de pessoas cantando a música. A sincronia é muito boa, o vídeo é leve e, principalmente, engraçado. Uma tradução da letra está aqui, assim quem não compreender de cara pode acompanhar pela letra em português.

O autor justifica a criação do vídeo assim: “há muito ódio na internet (especialmente no Youtube!) direcionado a grupos minoritários (especialmente à comunidade LGBT), então eu resolvi organizar esse vídeo para colaborar [contra isso]. Nunca pensei em mudar o mundo. Eu não fiz o vídeo para quem odeia gays ver. Eu quis fazer algo bom de se ouvir e divertido para as vítimas do ódio contra gays, para ajudá-los a ignorar o ódio e a se manterem fortes e confiantes como eles [naturalmente] são. Vocês não estão sozinhos. Stevie [autor do vídeo] ama vocês”. 😉. O original está no fim do texto* e a tradução é minha. Ao vídeo então:

O legal é que surgiu, alguns dias depois, uma versão francesa do vídeo. Explico: a música é a mesma, a ideia idem. Só foi feito por pessoas da França, mais precisamente pelos leitores do site Gayclick.
Passando do inglês ao português. Dos vídeos às palavras. Aqui no Brasil, em comemoração ao Dia Internacional de Combate à Homofobia, a deputada federal Manuela D’ávila (RS) fez um discurso em alusão à data no dia 19 de maio, terça-feira. Considero propício, contudo, fazer uma ressalva: o destaque dado às palavras da deputada neste blog são única e exclusivamente por deferência às colocações dela. Refletem [as palavras] um apanhado importante para todos aqueles que não acompanham as lutas históricas do movimento LGBT brasileiro – e internacional. Posto isso, segue a fala da deputada na íntegra (com correções ortográficas apenas):
Câmara dos Deputados
Sessão: 111.3.53.O
Hora: 15h12min
Data: 19/05/2009
Oradora: Manuela D’ávila

A SRA. MANUELA D’ÁVILA (Bloco/PCdoB-RS. Pronuncia o seguinte discurso.):

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, na semana passada tive a oportunidade de dirigir a mesa sobre pesquisa sobre a homofobia no VI Seminário Nacional LGBT, um debate riquíssimo sobre o preconceito contra estes milhões de brasileiros e brasileiras, lésbicas, gays e transgêneros.

Este debate inclusive tocou numa questão há muito percebida, mas que até agora não havia sido mensurada com o rigor científico. A Fundação Perseu Abramo realizou uma pesquisa, apresentada pelo professor Gustavo Venturi que tem resultados impressionantes. Quase metade dos brasileiros (45%) assume que tem preconceito médio ou alto contra gays, lésbicas, travestis ou transexuais. Os dados também indicam que 25% das pessoas se classificam como homofóbicas, aqueles que têm ódio ou não toleram homossexuais. Desses, 19% admitem uma homofobia média e 6% assumem uma homofobia forte.

Estes números apontam para um quadro de preconceito e discriminação para um enorme contingente da nossa população.

Mas eles refletem também que o arraigado preconceito tem raízes profundas. Para se ter um exemplo até 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificava a homossexualidade como um transtorno mental. Foi somente em 17 de maio de 1990, que a assembléia geral da OMS aprovou a retirada do código 302.0 (Homossexualidade) da Classificação Internacional de Doenças, declarando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”. A nova classificação entrou em vigor entre os países-membro das Nações Unidas em 1993.

Isto, senhoras e senhores deputados, mostra como é recente o reconhecimento do direito pleno à sexualidade. Apesar deste reconhecimento da homossexualidade como mais uma manifestação da diversidade sexual, as lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) ainda sofrem cotidianamente as conseqüências da homofobia, que pode ser definida como o medo, a aversão, ou o ódio irracional aos homossexuais: pessoas que têm atração afetiva e sexual para pessoas do mesmo sexo.

A homofobia se manifesta de diversas maneiras, e em sua forma mais grave resulta em ações de violência verbal e física, podendo levar até o assassinato de LGBT. A prisão de neonazistas acusados de um duplo homicídio mostra o tamanho do desafio que temos pela frente. O desafio de enfrentar forças que se inspiram na política de extermínio que tinha como alvos, não somente os homossexuais, mas também os judeus, os comunistas e os deficientes físicos. As investigações acerca deste crime mostraram também a existência de outros grupos organizados no Rio Grande do Sul e São Paulo.

Por fim, aproveito esta manifestação para saudar as brasileiras e brasileiros que lutam cotidianamente contra a intolerância lembrando que foi a luta de vocês, que derrubou há apenas 19 anos, este preconceito pseudo-científico. A luta dos que enfrentam as desigualdades nunca é em vão. É difícil e em alguns momentos muito sofrida, mas é com esta luta, assim como foi e é a luta dos negros, e das mulheres que aos poucos vamos consolidando uma democracia verdadeira para o nosso país.

Muito obrigada!

O discurso da deputada é um breve apanhado do que expus com mais minúcias no texto anterior. Em síntese: a simbologia da data e a homofobia brasileira que se manifesta, inclusive, pela violência física e letal. Mas em meio a isso, a história nos traz fabulosas revelações.

Em 1978, o cantor Tom Robinson imortalizou uma mensagem explítica e contundente em defesa dos homossexuais. Mais do que isso, Sing if you’re glad to be gay é uma canção que compraz como é bom ser gay. A letra foi escrita, originalmente, para a Parada Gay de Londres em março de 1976. Uma breve história sobre a música você pode ler aqui. No link, há a letra da música também (em inglês). O vídeo abaixo é da versão que mais me agrada, pois ele canta de forma bastante “visceral”. Além disso, faz uma piadinha curta no meio da canção que acho fantástica. Infelizmente, não achei nenhuma versão com legenda, nem mesmo a tradução num site.

Outras apresentações de Tom Robinson com essa música estão aqui e, numa apresentação de 2007, aqui.

O contexto registrado por Tom Robinson é o de meados da década de 70 na Inglaterra. Mas muito do que ele relata na letra é realidade em vários locais deste nosso país – e de outros também – exatamente hoje. Acima de tudo isso, como mensagem maior, ele nos diz (homossexuais ou não): cante se você é feliz sendo gay / cante se você é feliz do jeito que é. Eu canto. E você?

Até a próxima.
Abraços a todos. =)

*Original: “theres a disgusting amount of hate on the internet (especially on youtube!) directed at minority groups (especially the LGBT community) so i was inspired to organize this collab video. i never set out to change the world. i did not make this for the gay haters to see. i wanted to make something light hearted and funny for the victims of gay hate, to teach them to brush off the hate and stand strong and confident as who they are. you’re not alone! stevie loves you” :).