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Sobre mães e gays


Desde esta quinta-feira, 5 de maio, a imprensa brasileira foi tomada pelo tema dos casais homoafetivos – expressão que eu acho estranhíssima, confesso, mesmo porque ela raramente é utilizada dentro do movimento LGBT; é mais comum no meio jurídico que tem se debruçado sobre o tema, no denominado direito homoafetivo. Creio que os comentários sobre o dia histórico que este 5 de maio representa já foram feitos extensivamente tanto pela imprensa¹ quanto por blogueiros² e pelo próprio movimento LGBT.

Os argentinos José Luis David Navarro e Miguel Angel Calefato oficializam o 1º casamento gay do país vizinho em julho de 2010. Foto: Juan Mabromata/AFP

A decisão que o Supremo Tribunal Federal tomou nessa semana que passou ainda terá desdobramentos, penso eu, já que muitas reportagens têm dado informações controversas acerca da aplicabilidade e da extensão da decisão. Entretanto, o que se extraiu de fundamental foi uma espécie de unanimidade do Corpo de Ministros em entender a dignidade humana na sua amplitude e centralidade constitucionais, algo que todo humanista certamente ansiava – registre-se, inclusive, que as falas de alguns Ministros frisaram detidamente que o Estado brasileiro é laico, outro motivo para se comemorar. Particularmente, quero indicar o vídeo da defesa do professor Luis Roberto Barroso, um dos amicus curiae que falou em nosso favor no STF.

Os ricos votos dos Ministros soaram a tantos (a mim, com certeza) como um bálsamo diante de tantos fatos desanimadores dos últimos tempos: a campanha nefasta de José Serra no segundo turno eleitoral, as reiteradas ofensivas contra o PLC 122 no Senado, a ascensão midiática lamentável do deputado Jair Bolsonaro com suas declarações antidemocráticas e antidiversidade, o ato nazifacista em prol deste político em São Paulo, enfim, uma série de pequenos acontecimentos no cenário político do país que deixavam a todos nós, humanistas e militantes pelos direitos humanos, profundamente desanimados. Some-se a isso a absoluta leniência do Legislativo nacional brasileiro em relação aos direitos da população LGBT – nenhuma lei, nenhuma discussão profícua em décadas. O julgamento do STF foi, portanto, um resgate destes valores democráticos, humanistas e pluralistas que tantos defendemos.

Ator Ryan Kelley em cena do filme 'Prayers for Bobby'. Foto: reprodução.

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